- Obrigado obrigado, mas… mas… houve um engano, desculpem. É que…
Isto não é música, não passa de promoção barata de um falhado a atravessar uma fase notoriamente desinspirada. Nada a perder, nada a ganhar, está visto. Foi a última vez que fui expulso do casino, aceita isso…!
Ok desisto, conheço o caminho para a saída, não preciso de respeito nem de glória na partida; recomeço o processo de recriar um universo onde converso com versos com o meu reflexo no espelho. Sou complexo mas sei que isso não te interessa (amigo); confesso, não é de elite manter conversas com um mendigo mas só peço, deixa-me ser colorido por dentro, por um dia menos cinzento, não me arruínes o momento…!
Lamento não poder pagar-te um café, um palácio ou o que quer que faça de ti mais feliz materialmente; dos meus bolsos só saem traças ou então lágrimas sinceras, histórias, risos e sonhos, é tudo o que eu te posso oferecer. Dou-te tudo e tenho nada porque o meu nada ainda pode ser o teu tudo numa altura mais desesperada.
O que sou? Um mendigo… o que resta? Quase nada. Só publicidade enganosa e promoção barata. Vou fechar os olhos, pensar coisas agradáveis, ver a vida como é e beijar a minha noiva cadáver. O que sou? Um mendigo… o que resta? Quase nada. Só publicidade enganosa e promoção barata.
Escrevo a carta que vai conquista-la, chamo camarada a um desconhecido e confio-lhe a missão de entrega-la; não sou ingénuo, sou um romântico com nada a perder, um mendigo cego mas sem medo, um ávido estudante do ser. Vem ver como me agarro a memórias que nunca vivi para me manter vivo numa cidade muito grande para mim…
Acordar com a namorada e o pequeno-almoço na cama, fazer lutas de almofadas durante todo o fim-de-semana. Saber que ela me ama, pensar alto sem medo, flutuar com ela abraçado a esses balões de pensamento. Pintar paisagens tirando prédios, quebrar o tédio, jogar ao “sério”, inspirar hélio, ser patético, rever mistérios, ser ingénuo… inventar constelações, descansar numa rede de um jardim que ainda é segredo e onde a paisagem ainda é verde. Eu pareço feliz. Preciso disto, destes nadas porque eles são tudo o que eu tenho e é tudo promoção barata.
O que sou? Um mendigo… o que resta? Quase nada. Só publicidade enganosa e promoção barata. Vou fechar os olhos, pensar coisas agradáveis, ver a vida como é e beijar a minha noiva cadáver. O que sou? Um mendigo… o que resta? Quase nada. Só publicidade enganosa e promoção barata.
Nerve, "Promoção Barata"
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