essa tua eterna mania de escrever pérolas como esta mas de nunca as assinar nem publicar nem deixar que publiquem. Lamento, quebrei esse voto porque quero de facto partilhar isto:
E um sorriso pelos contornos dos teus olhos desenha-se; um sorriso que vem com um ensonado "Bom dia!" mas bem-disposto. Respondo numa monotonia de voz quase irritante de tão alegre ser. O meu cabelo espalha gotinhas de água de tamanhos diferentes e variados na tua pele morena natural enquanto te beijo o nariz e a testa e as bochechas e o espaço entre o teu nariz e a tua boca bem delineada. Fazes uma expressão que me faz pensar que tudo até agora tem valido a pena, mesmo que às vezes não seja como queríamos que fosse.
Ver-te despertar na cama sem teres noção das horas, do tempo e da intensidade de luz que está lá fora faz-me dar utilidade às primeiras palavras da manhã:
- Queres tomar o pequeno-almoço na cama ou arranjar-te primeiro? - mas o que decides convence-me de uma maneira muito mais fascinante. As tuas mãos passam para baixo da minha camisola azul e sobrevoam a minha pele ao mesmo tempo que os dedos fazem pequenas e delicadas aterragens que me dão minutos de prazer tão grandes que não caberiam nos bolsos das nossas calças de viagem nem nos bolsos das mochilas ainda por desempacotar todos juntos.
Rebolo para junto do teu corpo mais desperto que na passada noite aquando do regresso a casa e tu, sem demorar muito, despes o que acabava de vestir com mestria, destreza, facilidade e delicadeza.
Amo cada gesto que fazes e desenhas sobre as linhas da minha pele: suspiro, deixo-me levar. Deixo que me dês o mundo de mão beijada, deixo que me faças aproximar mais um pouco da textura das nuvens, da cor do céu. Deixo que te reconheças através de mim.
Envolvo-te nos meus braços agora. Deixo que pouses a tua cabeça no meu peito, sentindo a oscilação da minha respiração e o meu batimento cardíaco. Com a minha mão esquerda faço gestos repetidos que teimam em aquecer-te a pele mais um bocadinho.
Ouço um suspiro; ouço a tua voz seguindo-o. E harmonia, de novo.
- Gosto de ti, Cinderela. Em resposta, sorrio e penso em grãos de açúcar, pacotinhos cheios deles... cheios, a transbordar!
- Dia sim, dia sim. Todos os dias e mais um – continuou. Sei que valeu a pena esperar anos. Sei que valeu a pena passar pelo muito e pelo pouco para agora poder ter tudo o que fazia sentido e continua a fazer.
E porque os dias parecem demorar mais a passar, parecem demorar mais a serem seduzidos pelo relógio quando estás longe. E o café com canela arrefece, fica morno enquanto eu...
Aguardo a tua chegada a qualquer momento com um sorriso que espelha sol e alegria só por sentir o teu cheiro fresco, envolvendo-me afirmando o que há muito seria de ter por certo - que és meu. Tal como o açúcar é da doçura e o café da amargura.
Enrolas as tuas pernas nas minhas e eis a resposta: pequeno-almoço na cama.
Era o que esperava.
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