Era isto que me fazia falta. Fazer coisas. Ser útil. Estar de
acordo comigo. Ir. Realizar. Ver o resultado do trabalho ou do esforço.
Descansar meritoriamente. Deitar a cabeça na almofada e sentir-me cansada e a
precisar de 8h de sono. Não mais. Sono a mais interfere, carne vermelha ainda
mais interfere e a combinação de ambos destrói o meu espírito. Voltei a
encontrar-me e até acho que nunca tinha estado tanto em mim. Sinto-me a
crescer, com tudo pela frente mas com alguma maturidade; a suficiente para me
fazer pensar que cada momento é decisivo. Cada instante não é mais nem menos
que ele próprio, desfrutá-lo é o suposto. Se o sentirmos e fizermos de acordo
com aquilo que ele nos pede, vamos ter uma vida feliz e calma; o “agora”
determina todo instante seguinte e quando esse instante seguinte se fizer
sentir como “agora”, vamos sentir paz por termos dado o nosso melhor no anterior.
Disciplinarmo-nos é a única forma de nos tornarmos melhores,
e portanto, de nos conduzirmos aquilo que projectamos sobre o que queremos ser.
Pessoas melhores, mais felizes, mais satisfeitas. Mesmo que isso implique um
certo desconforto, que provo agora com sabor e cheiro, que é só um desconforto
inicial. A vida ensina-nos e quando abandonamos o nosso método habitual para
lidar com as situações, se soubermos que essa alteração foi para chegar a um
fim de facto gratificante, isso não nos dói tanto. Ou nada. E mudanças doem
sempre, seja de que forma for.
Ando cansada demais para parar a pensar. Mas nunca deixo de
pensar muito e bem, em todas as situações de actividade. Essa diferença
mostra-se-me como a barreira entre questionar as coisas mas não morrer por
dentro com isso. Porque quando pomos em causa, deixamos de conseguir encontrar a
plenitude ou a perfeição… os argumentos, os prós e os contras se forem
demasiado estudados e avaliados, em 70% das situações com que nos confrontamos revelam-se
inúteis, vazios de sentido. Precisamente por os termos explorado demais. Nos restantes
30% do que nos acontece no dia a dia, é importante questionar profundamente prós
e contras se formos juízes. Eu vou sentir-me realizada quando tiver todos os
dias da minha vida, um bom período de horas em que tenha de questionar coisas
quase até ao fim. Para o juiz esse exercício de questão acontece dentro de parâmetros
rígidos é certo, mas não deixa de ser eminentemente interessante.
Descobri-me outra vez mas não tive grandes surpresas. Se calhar
por isso, por me estar a descobrir “outra vez” apenas… o pano de fundo sempre
esteve lá. Ele só precisava de calma. Tenho tido demasiada agitação mas nenhuma
frutífera e agora… agora é o momento. Este instante irá condicionar o próximo
enquanto eu o sentir como “este mesmo instante”, vou fazer de tudo para o desfrutar,
para aprender com ele e com isso, rever a minha tese sobre as Coisas, sobre o
mundo, sobre mim até.
Sou feliz. E livre!
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