Estou por aqui sentada, na varanda. É um sítio aprazível, de
facto. Pena (pena…?) é ter vista privilegiada sobre a prisão, lembra-me o
Rúben.
Sinto como que uma certa apatia; aquela de quem sente o
tempo a passar depressa demais. Ando a ler uns textos, “Eça Agora”; José Luis
Peixoto integra o elenco e atribuiu a Ega um parágrafo interessante neste
sentido. Algo como, “se pudéssemos pagar o pão com tempo, oh! Não havia míngua
nesta terra”. Achei curioso, pensei que quebrasse o facto provado de que Eça de
Queirós conseguiu eternizar uma obra, criticando a sociedade portuguesa, apontando
vícios e podridões que se agarraram à força das nossas gentes para,
aparentemente, todo o sempre. Afinal hoje o tempo corre.
Mas não. O tempo passa tão depressa como em 1887: não passa.
As cidades não dormem, a bolsa é regida por nanosegundos, no ar e em terra
movimentam-se permanentemente pessoas, bens e capitais. Mas a Natureza
demora-se; demorar-se-á sempre e mais que isso, surpreenderá até ao fim dos
dias. “Nesta cidade esbanja-se tempo por aqui”. Na pressa de que ele não passe,
passamos nós por ele, como que distante ou intangível.
Não é apatia. É o processo de aceitar que o tempo pode
passar devagar, se assim o entendermos.
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